31 de mar. de 2019

Canto Poético: Brasil é Democracia (Ditadura? Nunca mais!).

O nosso Canto Poético de hoje é para refletir uma data que NUNCA deve ser comemorada, pois um povo que respeita o espaço democrático, o direito do outro e a dignidade humana, não pode exaltar em sua história um período marcado por autoritarismo, tortura e morte. 31 de março de 1964 foi um GOLPE de Estado, e da Democracia no Brasil. O cordelista Paulo Borja nos provoca a reflexão no seu cordel Brasil é Democracia (Ditadura? Nunca mais!).

Paulo Borja
Em 31 de março de 1964, o Brasil iniciava um dos períodos mais sombrios e violentos da sua história contemporânea. Começava neste dia um golpe de Estado realizado pelos militares diante o governo de João Goulart, período que durou 21 anos, marcados pela censura, opressão, tortura e morte de quem se opusesse contra o regime autoritário militar.
O inicio deste período macabro da história brasileira, se deu em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, diante pressões que sofreu no seu curto mandato. E seu vice, João Goulart assumiria em seu lugar, mas desde o início ele já sofria a pressão dos militares, que via em Jango, uma ameaça aos interesses das políticas estadunidenses capitalistas no país. Já que o presidente que assumia naquele momento, vinha de relações com países socialistas como a União Soviética, que naquele momento vivia em tenções de guerra com o Estados Unidos por conta da divisão bipolar entre capitalismo e socialismo, no período marcado da Guerra Fria (1947 - 1991).
Estes contextos foram ganhando tensões de 1961 a 1964, onde Jango ficou limitado em suas atribuições como presidente, pelo fato do Congresso Nacional ter aprovado a emenda Constitucional nº4, tornando o regime presidencial em parlamentar, assim Jango ficava com poderes como presidente restrito, e o parlamento ficavam com Tancredo Neves, primeiro-ministro, com mais força. Em 1963, a partir de um referendo, o período parlamentarista republicano no Brasil chegou ao fim, e João Goulart volta a ter maiores poderes enquanto presidente.
E neste período Jango começa colocar em plano várias de suas políticas, marcadas com grandes reformas de base no país, incomodando os detentores  dos poderes econômicos e políticos, e os Estados Unidos, que via uma grande ameaça de viés socialista nos seus interesses na América Latina. Assim com apoio dos estadunidenses os militares no Brasil, com a justificativa de uma ameaça comunista, com as políticas de esquerda de Jango, se opuseram ao presidente, e todas as bases do governo, que tinha apoio principalmente dos estudantes universitários.
E em 31 de março de 1964, foi declarado o Golpe de Estado impondo o exílio do presidente, e dando inicio ao regime militar no Brasil, com uma posição ditatorial. Assim o primeiro período da democrático no Brasil teve o fim, com a volta de um governo autoritário, sem diálogo e com vários atos de violência. E em 09 de abril de 1964, com o Ato Institucional nº1, foi dado o poder ao Congresso Nacional escolher o novo presidente, o general Humberto de Alencar Castelo Branco, dando inicio a este período autoritário, violento e sombrio na história do Brasil.
Ao longo destes 21 anos de ditadura no Brasil, muita gente foi torturada e assassinada, simplesmente por se opor ao regime militar. Vários historiadores, pesquisadores, músicos, poetas, artistas, políticos que viveram esta história, relataram tempos macabros na história contemporânea no Brasil. Por isto, 31 de março, não é dia de comemorar, mas sim refletir as ameaças a democracia, e o quanto o autoritarismo eleva as desigualdades e a violência dos direitos humanos, sociais, políticos e civis.
O professor, físico, músico, poeta cordelista paulista Paulo Roxo Borja, publicou pela Cordéis Joseenses da LABCOM/ UNIVAP, em 2014, o cordel Brasil é Democrático (Ditadura? Nuca mais!), que reflete os impactos que a ditadura militar no Brasil entre 1964 a 1985 causou. Uma ótima leitura de reflexão para compreender que dia 31 de março não tem nada para comemorar, e sim refletir que um governo extremista ditatorial não representa de forma nenhuma a democracia e os direitos de um povo.

BRASIL É DEMOCRACIA (DITADURA? NUNCA MAIS!)
Por: Paulo Borges
Quando me pego pensando
no Brasil que havia antes,
quando muitos não podiam
nem sequer ser estudantes,
percebo, ao longo da História,
mudanças interessantes.

O Brasil, por muito tempo,
reprimiu a liberdade
de cidadãos que buscavam
melhorar a sociedade;
alguns partiram pro exílio
ou pra clandestinidade.

Na noite de duas décadas,
muita gente sucumbiu
por querer democracia
aqui mesmo, no Brasil.
Página triste da História:
só não teme quem não viu.

A verdade é uma só:
foi cruel a ditadura!
Tanto o povo quanto artistas
foram alvo de censura.
Pior: muito brasileiro
foi vítima de tortura.

Havia tensão constante.
Figueiredo foi falar
de abertura democrática:
"vou prender e arrebentar"
- era assim que se expressava
Cordel: Brasil é Democracia (Ditadura? Nunca Mais!) - Paulo Borja
presidente militar...

Veio então democracia:
a vida já melhorava,
mas a velha corrupção
ainda continuava...
Investigações mais sérias
o governo engavetava.

Dezenas de gravações:
compra de votos provada.
Na onda da reeleição,
privatização errada:
a Vale valia muito
e se foi, de mão beijada...

Para agradar estrangeiros,
quiseram colocar “X”
no nome da Petrobras,
desrespeitando o país,
mas o povo protestou
e dessa vez foi feliz.

No século XXI,
novidade surpreendente:
o Brasil passou a ter
o operário presidente
que fez acordo com muitos
e encarou outros de frente.

Mudou o nosso comércio:
estreitou, enfim, contato
com los hermanos e a África.
Sem fazer espalhafato,
o nosso salário mínimo
com ele cresceu de fato.

Depois de ser reeleito
com imensa votação,
o seu governo enfrentou
denúncias da oposição
e a Justiça, até sem provas (!?)
emitiu condenação.

Nós seguimos sempre em frente;
não há controvérsia nisso.
Nos problemas que encontramos
não queremos "dar sumiço":
encarar pra resolver
é melhor que ser omisso.

Quando enfim uma mulher
assumiu a presidência,
a Polícia Federal
mostrou grande independência:
muitas investigações,
transparência, eficiência.

As Comissões da Verdade
têm trazido informação
sobre os desaparecidos
nos tempos da escuridão
que manchou a nossa História
causando consternação.

Cada passo é novo estágio
para o amadurecimento.
Os problemas do passado
não se encerram num momento,
mas a nossa consciência
já tem encontrado alento.

Quanto à inclusão social,
não é mais "alegoria":
temos hoje mais emprego,
mais lazer e moradia.
Falta, porém, muito ainda
pra clarear nosso dia.

Temos universidades
muito boas, afinal;
falta, porém, melhorar
o ensino fundamental
para assim desenvolver
consciência nacional.

Um problema grave ainda:
o poder da grande imprensa
nas mãos de poucas famílias
- a distorção é imensa.
Regulamentar a mídia
será uma batalha intensa!

Falta reforma política,
uma importante demanda;
lutar contra a corrupção
(senão o país não anda);
combater o preconceito
- luta que nunca foi branda.

Uma coisa é evidente
pra mim, até por demais:
ruas praças e avenidas
nas casas e nos quintais,
BRASIL É DEMOCRACIA;
DITADURA NUNCA MAIS!

REFERÊNCIA
BEZERRA, Juliana. Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). IN.: TodaMatéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/ditadura-militar-no-brasil/. Acessado em: 31/03/2019.

BORJA,. Paulo R. Cordéis Joseense 51: Brasil é Democracia (Ditadura? Nunca Mais!). IN.: Cordéis Joseense. Disponível em: http://cordeisjoseenses.blogspot.com/2014/11/cordel-joseense-51-brasil-e-democracia.html. Acessado em: 31/03/2019.

MEMÓRIAS DA POESIA POPULAR. Paulo Roxo Borja. Disponível em: https://memoriasdapoesiapopular.com.br/tag/paulo-roxo-barja/. Acessado em: 31/03/2019.

SÓ HISTÓRIA. Ditadura Militar no Brasil. Disponível em http://www.sohistoria.com.br/ef2/ditadura. Acessado em 31/03/2019.

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