1 de mai. de 2015

Trabalhador: a (des)valorização do trabalho.

No dia do trabalhador, deixo aqui uma análise, como homenagem a cinco trabalhadores que fazem parte da construção histórica social, econômica e cultural de Taiobeiras – MG. Zé Padeiro, o primeiro padeiro do município de  Taiobeiras, Wilson Sapateiro o mais antigo sapateiro em ativa do município, assim como Zé Baiano, feirante com mais tempo nas bancas do Mercado Municipal, Amadeus da Oficina de Bicicleta, primeiro mecânico de bicicleta de Taiobeiras, e propulsor do ciclismo no município, e Iris Marceneiro, um dos mais antigos marceneiros de Taiobeiras, responsável pela reforma de um dos símbolos do patrimônio taiobeirense, o Cruzeiro da praça do Santos Cruzeiro.
 
Cotidiano - Jerci Maccari (2005)
Falar de trabalho é referir um dos principais elementos sociológicos para compreensão social, político, econômico e cultural. Precisamos também compreender que mencionar tal elemento é proporcionar uma leitura filosófica das três atividades fundamentais para os gregos na antiguidade, vita activa, sendo estes: o labor, o trabalho e a ação.
O labor, que se relacionam com a necessidade biológica do indivíduo, necessidades animalescas necessita para sobreviver e assegurar que exista a espécie. Desta forma o labor é presente em toda ação vital, e assegura as condições humana a própria vida. O trabalho que nos diferencia dos demais animais, este elemento se relaciona com o lado racional e intelectual humano, techné. É a partir do trabalho que o ser transforma elementos da natureza em objetos para seu consumo, diferenciando dos demais seres, a forma como produz estes objetos.
Já a ação, resume como atividade mais nobre humana, o pensamento político-social, onde esta não necessita da matéria para existir, e o elemento que traz a característica para Aristóteles, do animal socialis, onde através da phronésia, o ser humano se expressa sua capacidade de julgar em uma determinada situação, levando a ideia do bem, e motivos de fazer a própria ação. Estes três elementos da vita activa são uma proposta da construção social do individuo, diferenciando ao compararmos com os demais seres vivos, “o homo faber (fabricador) é o único que é senhor tanto da natureza quanto de si mesmo” (Arendt). O que leva a outra análise, a partir da sociologia do trabalho.
Desde os pensadores clássicos da sociologia, aos contemporâneos, o trabalho é uma palavra-chave de análise da sociedade. Para Marx o trabalho é definido nas relações da produção, traz em seu argumento a divisão do trabalho a partir da divisão de classes sociais (proletariado e burguesia, ou, dominante e dominado da força de trabalho). Já Durkheim a solidariedade, e a coesão do organismo social, são caracterizam a divisão do trabalho, definindo o trabalho como elemento básico na construção da sociedade, onde o individuo herda a condição que tem, e desta devera se adequar ao contexto proposto, e devera executar para o funcionamento do organismo social. Para Weber, o trabalho é analisado a partir das relações sociais, que são compostas por ações sociais, que estão relacionadas pela racionalidade ou emoção, e diante desta situação, as relações se estabelecem diante as características, tipos ideais, que compõe a sociedade referida.
Referir o trabalho aqui é proporcionar a sua (des)valorização. Onde, ainda quando era graduado, realizei um artigo falando de cinco trabalhadores do município de Taiobeiras – MG, para debater esta valorização ou desvalorização do trabalho e do trabalhador. A definição da escolha dos cinco trabalhadores foi pensada a partir da identidade que estes senhores possuem com seus ofícios, sendo eles: Zé Padeiro, Wilson Sapateiro, Zé Baiano Feirante, Amadeus da Oficina de Bicicletas e Iris Marceneiro.
Uma característica básica entre todos eles é como a sua identidade relacionada a seus ofícios respectivamente são postas. Todos eles carregam em seus apelidos, o seu oficio. Não precisaria nem mencionar o que cada um faz, ou fez na vida, pois no seu nome vulgo, trazem esta informação.
Mas tal característica vem sendo desconstruída diante ao mundo globalizado, onde antes a busca pela solidez da profissão, onde o individuo era conhecido pela sua função social. Podemos perceber a flexibilidade desta característica, onde o individuo não possui mais a ideia de profissão sólida, e sim liquida. A flexibilidade, ou seja, não ficar preso apenas a uma profissão, a um local de trabalho, não criar uma identidade a partir de um ofício, faz parte hoje de um currículo do trabalhador.
A proposta de trazer Zé Padeiro, Wilson Sapateiro, Zé Baiano Feirante, Amadeus da Oficina de Bicicletas e Iris Marceneiro, e trazer profissões que vem sofrendo grandes transformações, desde o modo de produção e trabalho, ao local de trabalho, com isto, podemos perceber que neste cenário ocorre ao mesmo tempo uma valorização e desvalorização do trabalho. Valorização com a modernização do trabalho, as novas formas dos meios de produção, que também proporciona a desvalorização do trabalho, pois muitas vezes ligada ao descaso destes trabalhadores que tinham antes maior significado e importância social. Onde sua solidez profissional renderia a eles sobrenomes vulgar a partir do seu ofício.

Mas, todos estes cinco trabalhadores, são e serão reconhecidos pelas suas obras. A sua vita activa, fizeram e fazem parte da construção social taiobeirenses. E com isto as velhas e novas gerações ainda terão como referência seus nomes. Pois apesar de questionarmos aqui a desvalorização do trabalho, os valores transmitidos por estes trabalhadores, a partir do seu ofício e obra, vão perpetuar diante a história na qual fazem parte, a história social, econômica e cultural de Taiobeiras – MG. 

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