28 de mai. de 2021

O Bicho da Carneira: uma lenda de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha.

Várias lendas são passadas de geração em geração, muitas surgem com as interações culturais, e são traduzidas com o lugar onde são difundidas. O Bicho da Carneira pode ter semelhanças com outras, mas nunca confundida. Conhecido também como o “Bicho da Fortaleza”, “Bicho Lenudo”, e mais popular como o “Bicho de Pedra Azul”, referente à cidade no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, que se passa a lenda. 

Pedra Azul é uma cidade do interior mineiro, na mesorregião do Vale do Jequitinhonha, e como toda cidade interiorana do território mineiro, Pedra Azul tem muitas histórias e lendas, uma mistura religiosa e mística que provoca uma imaginação rica e marcante na cultura local. Mas a lenda pedrazulense não é qualquer lenda, e transcorre de geração em geração, e é reconhecida em todas as partes do país.

No final do século XVIII, exatamente em 1799, inicia a lenda do Bicho da Carneira, com o nascimento de Joaquim Antunes de Oliveira, no antigo povoado de Gorutuba, conhecida hoje como Janaúba – MG, mas se mudou para o antigo Arraial de Nossa Senhora da Boca da Caatinga, conhecida hoje como Pedra Azul. Coronel de renome era conhecido por sua arrogância e violência.

Igrejinha de N.S. da Conceição - Pedra Azul - MG

Conta que uma vez, ele invadiu uma celebração eucarística na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, próximo a sua residência, na avenida que hoje leva seu nome, quando uma comissão de padres da ordem jesuítas visitava a paróquia local. Ele foi excomungado pelos religiosos, e alguns contos desta lenda remetem a este fato, a uma doença rara que Joaquim Antunes sofreu anos depois, que deixou paralisado e sem convívio social, levando a morte.

Mas este não é o único ato da brutalidade de Joaquim. Conta quem certo dia, após trabalhar o dia todo encima do lombo de uma mula, ele queria ir à cidade e utilizar o mesmo animal, que já estava exausto. Sua mãe, o interviu impedindo ele de sair com a mula. Ele em um ato de total descontrole, pegou a sela e colocou em sua própria mãe, e foi da sua fazenda na comunidade rural de Gameleira, até sua residência em Pedra Azul, montado em sua própria mãe.

Estes são alguns dos atos, da brutalidade do fazendeiro, que segundo a lenda, interfere nos atos pós a sua morte. Que segundo conta, ele foi enterrado no cemitério de Cantigas, em Pedra Azul, e por questões políticas, seus restos mortais, foram levados para uma região mais afastada. E segundo os moradores daquela época, começaram a surgir coisas estranhas na cidade.

Rachaduras foram encontradas no novo tumulo, e pelos de animal foram visto dentro das fendas. Além de pessoas que viram um animal misterioso, parecido com um cachorro em vários lugares do município, e até mesmo na região. E mesmo tampando as fendas no tumulo, passava pouco tempo, elas abriam e eram vistos os pelos novamente. Na fazenda Gameleira, uma vara de porcos sumiu de repente em uma madrugada. E vários casos foram relatados.

Assim a desconfiança que Joaquim Antunes, diante sua brutalidade, que foi excomungado, e de todo ódio que o rodeia, o fez retornar dos mortos para aterrorizar as pessoas.

Para uns ele aparece em forma de um cão humanoide, todo preto e com um olhar de raiva. Pronto para atacar qualquer um que aparecer, seja gente o bicho, o que explicaria o sumiço de animais na região, ou pessoas perseguidas no meio da noite. E este Bicho, teria um pavor enorme de chicote, o mesmo que usou ao cavalgar em sua mãe.

Pedra Azul - MG
Para outros um homem estranho, vestindo capote, e que aparece sempre para pessoas que cometem atos ruins como os dele, como forma de punir e amaldiçoar como foi feito com ele.

Outros já o retratam que ele surge como um homem jovem e atraente, que se hospedam em ótimas pousadas e hotéis, comendo refeições que daria para vinte homens, e indo embora deixando apenas um bilhete, se identificando como Joaquim Antunes, e solicitando que coloque a conta para ser paga a seus parentes e descendentes.

O Bicho de Pedra Azul, ou o Bicho da Carneira, continua saindo de seu túmulo, sempre que o ódio toma conta dos restos mortais de Joaquim Antunes. Alguns dirão que se trata de uma lenda para assombrar crianças malcriadas, outros vão dizer que é real, e já o viu, ou sabe de alguém que teve contato com ele. Mas fato é, o Bicho esta presente no nosso imaginário e na cultura não só de Pedra Azul, mas no folclore brasileiro. 

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