8 de mar. de 2022

O Matriarcado em: A Noiva do Cordeiro

Maria Senhoria de Lima é responsável pela origem da comunidade rural da Noiva do Cordeiro em Belo Vale – MG, que hoje tem em sua neta Dona Delina a representatividade do Matriarcado. 

No final do século XIX, inicio do século XX no interior de Minas Gerais, na área rural do município de Belo Vale, que uma das comunidades rurais mais singulares do Brasil surgiu. Uma história de filme de Hollywood, de uma noiva que no dia do casamento forçado, fugiu com o amante, mas como consequências, foram excomungados pela igreja, e excluídos pela sociedade local. Lembrando que era inicio do século passado, em uma sociedade rural tradicional.

O casal Maria Senhorinha de Lima e Francisco Fernandes se isolaram inclusive seus descendentes também sofreram com as consequências. E assim tiveram que construir suas vidas sem apoio de ninguém, formando uma nova comunidade.

Na década de 1950, a comunidade passou por uma grande mudança. Delina de 16 anos, neta de Maria Senhorinha de Lima, casou com um pastor evangélico chamado Anísio Pereira de 43 anos, no qual tiveram 15 filhos. Mas o que marca neste período é que Anísio fundaria na comunidade uma igreja evangélica, que na época eram rejeitadas por uma sociedade majoritariamente católica, isolando ainda mais a comunidade. Esta igreja era bastante rígida e fundamentalista, estendendo até a década de 1990, quando em uma reunião da comunidade liderada por Delina pós fim com a igreja de Noiva do Cordeiro e seu fundamentalismo.

Iniciava naquele momento uma nova geração, principalmente por mulheres empoderadas descendentes da Maria Senhorinha de Lima, que não aceitariam que o patriarcalismo e suas raízes as inferiorizassem e colocasse como deveriam se comportar.

Noiva do Cordeiro - Belo Vale - MG

A comunidade rural Noiva do Cordeiro iniciava sua era Matriarcal, o que diferencia esta comunidade de tantas outras espalhadas no país. O Matriarcalismo é um conjunto de ações relacionados a organização e poder sobre um grupo e/ou sociedade, gerida pelo sexo feminino. É importante entender que o sistema matriarcal não se associa ao patriarcalismo, que está associado a uma visão do machismo e todas as formas de exclusão associados a este.

Assim este regime feminista, que busca ser justo e igualitário, no sentido de equidade, teve em Dona Delina, matriarca da comunidade Noiva do Cordeiro, um exemplo de luta e resistência, as opressões a todos os descendentes de Maria Senhorinha, que por conta do machismo presente na estrutura do sistema patriarcal brasileiro, sofreu por não aceitar um casamento forçado. Apesar de ver o caso se repetir com Delina, houve uma superação, e uma transformação na comunidade como um todo.

Ao longo de gerações, a comunidade foi excluída na região de Belo Vale o que forçava uma migração sazonal dos homens da comunidade para a capital de minas, Belo Horizonte, que fica a 100 km da região. Nisto as mulheres é que faziam tudo na comunidade, da produção do campo aos cuidados da família e da casa. Isto contribui até hoje para que na comunidade de mais de 300 habitantes, sendo em sua maioria, descendentes do casal fundador, tenha mulheres empoderadas e que lideram a comunidade.

Noiva do Cordeiro mostra a luta das mulheres, e como o matriarcal é mais justo e igualitário, sendo que mesmo com todo o processo de exclusão sofrido, hoje a comunidade é exemplo de organização, sustentabilidade econômica, social e ambiental. Que as liberdades de crença, sexuais e gênero se faz presente. Com uma cultura singular em meio a uma sociedade marcada pela cultura dominante, influenciada pela homogeneização cultural ocidental, regada de intolerância, racismo e machismo, e mesmo assim resistindo e transformando.

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