29 de abr. de 2019

Espaço Musical: O Tempo Não Para

O músico-poeta Cazuza é conhecido como um dos principais compositores brasileiros, por trazer em suas canções reflexões sempre atuais na leitura da realidade brasileira. Claro que a realidade brasileira diante seus problemas sociais é algo que parece não mudar. A canção O Tempo Não Para de Cazuza junto a Arnaldo Brandão, é uma leitura crítica da realidade brasileira. A canção que veio como desabafo de Cazuza diante a mídia que estava já o colocando como morto. Tornou-se uma leitura e critica das relações de poder e dos problemas sociais no país. 

Cazuza
O compositor, poeta e músico carioca Agenor de Miranda Araújo Neto, ou simplesmente Cazuza, é considerado um dos maiores nomes da música brasileira. Com letras marcantes, pela letra poética, ou pela crítica social, teve seu auge nos anos de 1980, falecendo aos 31 anos e deixou canções eternizadas. Muitas delas bem atuais diante a leitura da realidade do país.
A canção O Tempo Não Para do álbum de mesmo nome lançado em 1988, dois anos antes da morte do artista, foi uma parceria com o músico Arnaldo Brandão, e de uma crítica a mídia e aqueles que o colocavam como morto e derrotado, se torna uma letra marcante diante a crítica do poder político e dos problemas sociais do país.
Nos anos de 1990 com um pais cheio de problemas sociais, e uma revolta popular diante o governo do presidente Collor de Melo, a canção se tornou uma das referencias da juventude dos Caras Pintadas diante o impeachment do presidente. Mas hoje em pleno século XXI, a canção se mostra ainda mais viva do que nunca.
Talvez Cazuza não imaginasse que ao dizer que vai “sobrevivendo” da “caridade de que” o “detesta”, teria tanto sentindo no final da década de 2010. 30 anos depois da canção, o “futuro” vem repetindo o “passado”, com uma onda conservadora extremista da direita ganhando força como nos de 1960 no país. E até mesmo querendo interferir na história, querendo tirar a sua culpa na morte de milhões de pessoas durante o Nazismo na Europa, aos golpes militares na América Latina.
Ainda continuam chamando de “ladrão, bicha e maconheiro”, principalmente aqueles que fazem usam a arte para educar, e conscientizar de forma crítica o poder político e econômico que “transformam o país inteiro em um puteiro”, e continuando assim ganhando “mais dinheiro”. E em uma analise de contexto entre épocas, ainda continuam figuras da época de Cazuza nesta relação, porque a 30 anos atrás, o que foi falado que é novo hoje, que é o diferente, que não é a “velha política”, entre tantas falas que titula de “mitagem”, já faziam parte dos cenários dos poderes políticos e econômicos no Brasil.
Álbum: O Tempo Não Para - Cazuza - 1988
O pior, é que a “piscina” destes que são os novos, continuam “cheia de ratos” e que as suas “ideias não correspondem os fatos”. O Tempo Não Para é uma das canções que mostra que a realidade brasileira e os problemas sociais, políticos e econômicos, continuam presentes, sempre diante um processo de retrocesso no nosso cenário político. Que após tantas conquistas de direitos sociais, políticos, civis e humanos, vemos uma onda conservadora de extrema direita colocar em “xeque” estas conquistas.  


Confira abaixo a canção:
O Tempo Não Para
Cantor/Compositores: Cazuza e Arnaldo Brandão.

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para, não, não para

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha num palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para, não, não para

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para, não, não para

23 de abr. de 2019

Espaço Musical: Carinhos.

O ritmo musical Choro ou Chorinho é um dos mais originais estilos musicai a partir da sua instrumentalidade. E este estilo musical tipicamente brasileiro, ganhou o mundo por trazer belas canções, que desde as sinfonias e as letras, mexem com a emoção de quem as ouvem. A canção Carinhoso de Pixinguinha talvez seja uma das mais belas músicas de choro, e que retrata este ritmo. 

Pixinguinha
O Choro é um ritmo musical que surgiu no século XIX no Rio de Janeiro, que em meados da década de 1870, a partir do músico Joaquim Calado, o estilo musical começou a ser reconhecido. Aos poucos o Choro, ou Chorinho assim também conhecido, foi ganhando adeptos na capital brasileira (na época o Rio de Janeiro era a capital do Brasil), principalmente entre as classes populares, que apesar do estilo instrumental meloso, o ritmo era considerado na época como musicalidade inquieta e eufórica.
Com o tempo o Choro foi ganhando espaço e reconhecimento, e os chorões, assim conhecidos os músicos de Choro, que se reunião nos bairros periféricos da Cidade Maravilhosa, principalmente no bairro Cidade Nova, foram ganhando reconhecimento. Entre eles destacava a Chiquinha Gonzaga, a criadora da primeira Marchinha de Carnaval, Ernesto Nazareth e um dos mais celebrem chorões de todos, Pixinguinha.
Carinhoso - Pixinguinha
Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, nasceu no Rio de Janeiro em 23 de abril de 1897, e herdou de seu pai a habilidade de flautista. Pixinguinha desde pequeno já mostrou seu talento, e aos 13 anos compôs o choro Lata de Leite, em pouco tempo, se juntou com outros grandes nomes João da Baiana, e Donga criador da canção Telefone, o primeiro Samba. Formaram o grupo Oito Batutas no início do século XX, e assim Pixinguinha se tornou um dos maiores chorões de todos os tempos, o que faz da sua data de aniversário o Dia do Choro.
Entre tantas canções do grande músico, a canção composta entre 1916 a 1917, Carinhoso, é uma das mais belas canções da Música Popular Brasileira, e um dos maiores Chorinhos. A instrumentalidade de Pixinguinha recebeu anos depois a letra do músico João de Barro, sendo gravada em 1937 por Orlando Silva, trazendo uma narrativa a esta canção que é um dos símbolos da musicalidade do Choro.  

Confira abaixo a canção:
Carinhoso
Instrumentista: Pixinguinha
Letra: João de Barro
Cantor: Orlando Silva

Meu coração
Não sei porque
Bate feliz
Quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim
Foges de mim
Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso
E muito muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem

Vem sentir o calor dos lábios meus
A procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz, bem feliz

19 de abr. de 2019

Interpretes do Brasil: Daniel Munduruku.

Baseando no portal Interpretes do Brasil, pretendo aqui além dos grandes nomes considerados pelo portal, como grandes intelectuais brasileiros, trazer outras personalidades que representaram e representam estes interpretes da realidade social, política, econômica e cultural do Brasil. Em referência ao Dia do Índio, comemorado nos continentes Americanos, o interprete de hoje é o professor e filósofo Daniel Munduruku, da etnia indígena Munduruku na região de Belém – PA. 

Daniel Munduruku
Em 19 de abril se comemora nos continentes das Américas, Sul, Central e Norte, o Dia do Índio, nome dado aos povos existentes nas Américas antes da colonização europeias nos continentes relacionados. A data veio a partir do 1º Congresso Indigenista Interamericano, realizado em 19 de abril de 1940, que teve como objetivo refletir e trazer a preservação e valorização da cultura dos povos indígenas nas Américas.
A data foi oficializada no Brasil em 1943, através do Decreto-Lei nº 5.540, durante o governo Vargas. A data tem como maior objetivo refletir os problemas enfrentados pelos povos indígenas. Questões como a violência e genocídio dos povos indígenas ao longo da história das colonizações europeias, aos problemas das desigualdades sociais e exclusões contemporâneas.
Ao longo da história os povos indígenas no Brasil e em toda América foram ocupando seu espaço e reconhecimento. Apesar da real valorização das diversas etnias indígenas presentes no Brasil, esta longe do ideal. Mas ao longo da história muitos indígenas foram se destacaram e conquistando os direitos e valorizações de seus povos.
O professor e filósofo Daniel Munduruku é um dos exemplos de oriundos de etnias indígenas que se destaca na interpretação do Brasil, principalmente dentro da leitura da realidade dos povos indígenas. O paraense de Belém nasceu na etnia Munduruku, graduado em Filosofia, História e Psicologia, mestre em Antropologia Social e doutor em Educação, pela Universidade de São Paulo. Daniel se destaca pela literatura infantil e pela literatura escrita pelos povos indígenas.
Memórias de Índio - Daniel Munduruku
Em sua obra promove a valorização dos povos indígenas, e traz da história contata apenas da forma oral, para a literatura escrita e registrada, como forma de preservar os contos e a história dos povos indígenas. Premiado pela UNESCO pela sua obra Meu Avô Apolinário, Daniel Munduruku destaca por outras obras como História de Índio e Coisa, Coisa de Índio e As Serpeantes que Roubaram a Noite. As obras de Daniel se tornam grandes referencias para compreensão dos povos indígenas no Brasil, e o faz uma das grandes referências da literatura indígena no mundo. A obra Memórias de índio se torna uma autobiografia de Daniel, e suas vivências na aldeia Maracanã onde nasceu e foi criado.

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