O músico-poeta Cazuza é conhecido como um dos principais
compositores brasileiros, por trazer em suas canções reflexões sempre atuais na
leitura da realidade brasileira. Claro que a realidade brasileira diante seus
problemas sociais é algo que parece não mudar. A canção O Tempo Não Para de Cazuza junto a Arnaldo Brandão, é uma leitura
crítica da realidade brasileira. A canção que veio como desabafo de Cazuza
diante a mídia que estava já o colocando como morto. Tornou-se uma leitura e
critica das relações de poder e dos problemas sociais no país.
O compositor, poeta e músico carioca Agenor de Miranda Araújo Neto, ou
simplesmente Cazuza, é considerado um dos maiores nomes da música brasileira.
Com letras marcantes, pela letra poética, ou pela crítica social, teve seu auge
nos anos de 1980, falecendo aos 31 anos e deixou canções eternizadas. Muitas
delas bem atuais diante a leitura da realidade do país.
A canção O Tempo Não Para do
álbum de mesmo nome lançado em 1988, dois anos antes da morte do artista, foi
uma parceria com o músico Arnaldo Brandão, e de uma crítica a mídia e aqueles
que o colocavam como morto e derrotado, se torna uma letra marcante diante a
crítica do poder político e dos problemas sociais do país.
Nos anos de 1990 com um pais cheio de problemas sociais, e uma revolta
popular diante o governo do presidente Collor de Melo, a canção se tornou uma
das referencias da juventude dos Caras
Pintadas diante o impeachment do
presidente. Mas hoje em pleno século XXI, a canção se mostra ainda mais viva do
que nunca.
Talvez Cazuza não imaginasse que ao dizer que vai “sobrevivendo” da “caridade
de que” o “detesta”, teria tanto sentindo no final da década de 2010. 30 anos
depois da canção, o “futuro” vem repetindo o “passado”, com uma onda
conservadora extremista da direita ganhando força como nos de 1960 no país. E
até mesmo querendo interferir na história, querendo tirar a sua culpa na morte
de milhões de pessoas durante o Nazismo na Europa, aos golpes militares na
América Latina.
Ainda continuam chamando de “ladrão, bicha e maconheiro”, principalmente
aqueles que fazem usam a arte para educar, e conscientizar de forma crítica o
poder político e econômico que “transformam o país inteiro em um puteiro”, e
continuando assim ganhando “mais dinheiro”. E em uma analise de contexto entre
épocas, ainda continuam figuras da época de Cazuza nesta relação, porque a 30
anos atrás, o que foi falado que é novo hoje, que é o diferente, que não é a “velha
política”, entre tantas falas que titula de “mitagem”, já faziam parte dos
cenários dos poderes políticos e econômicos no Brasil.
Álbum: O Tempo Não Para - Cazuza - 1988 |
Confira abaixo a canção:
O Tempo Não Para
Cantor/Compositores: Cazuza
e Arnaldo Brandão.
Disparo
contra o sol
Sou
forte, sou por acaso
Minha
metralhadora cheia de mágoas
Eu
sou um cara
Cansado
de correr
Na
direção contrária
Sem
pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu
sou mais um cara
Mas
se você achar
Que
eu tô derrotado
Saiba
que ainda estão rolando os dados
Porque
o tempo, o tempo não para
Dias
sim, dias não
Eu
vou sobrevivendo sem um arranhão
Da
caridade de quem me detesta
A
tua piscina tá cheia de ratos
Tuas
ideias não correspondem aos fatos
O
tempo não para
Eu
vejo o futuro repetir o passado
Eu
vejo um museu de grandes novidades
O
tempo não para
Não
para, não, não para
Eu
não tenho data pra comemorar
Às
vezes os meus dias são de par em par
Procurando
agulha num palheiro
Nas
noites de frio é melhor nem nascer
Nas
de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E
assim nos tornamos brasileiros
Te
chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam
o país inteiro num puteiro
Pois
assim se ganha mais dinheiro
A
tua piscina tá cheia de ratos
Tuas
ideias não correspondem aos fatos
O
tempo não para
Eu
vejo o futuro repetir o passado
Eu
vejo um museu de grandes novidades
O
tempo não para
Não
para, não, não para
Dias
sim, dias não
Eu
vou sobrevivendo sem um arranhão
Da
caridade de quem me detesta
A
tua piscina tá cheia de ratos
Tuas
ideias não correspondem aos fatos
O
tempo não para
Eu
vejo o futuro repetir o passado
Eu
vejo um museu de grandes novidades
O
tempo não para
Não
para, não, não para