20 de nov. de 2018

Espaço Musical: Afro-Brasileiro.

Dia 20 de novembro, dia Nacional da Consciência Negra, dia da Resistência dos Grupos e Movimentos Negros Brasileiros. Dia de Rap Nacional, dia de Thaíde e DJ Hum e a canção Afro-Brasileiro de 1995, uma reflexão da identidade cultural brasileira e sua africanidade. 

Thaíde & DJ Hum.
Em 20 de novembro de 1695, o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi foi assassinado após ter sido derrotado pelo exército da coroa portuguesa com a liderança do bandeirante Domingues Jorge Velho. Esta data que marcava o fim do maior símbolo de resistência negra, durante a escravidão dos povos africanos no Brasil Colônia, o Quilombo dos Palmares, se tornou um marco para surgirem vários movimentos diante a causa do fim da escravidão negra e do racismo no país.
Falar de racismo no Brasil é apontar uma grande contradição. Um país reconhecido por suas diversidades, e principalmente por sua identidade estar ligado fortemente com a identidade cultural africana, diante o processo diásporo dos povos vindos da África para o Brasil desde o século XVI, e também marcado por um alto índice de desigualdade racial, e da violência simbólica do racismo.
O Dia Nacional da Consciência Negra, é uma data marcada para refletirmos esta desigualdade e violência presente até hoje na sociedade brasileira. Vários grupos e movimentos ligados as questões raciais são símbolos desta luta e resistência, das marcas do etnocentrismo europeu, e consequentemente do racismo mascarado no Brasil contemporâneo.
O movimento Hip Hop, especificamente o Rap Nacional, nos anos de 1980 surgiu como um destes grupos de resistência. Usando a arte da música vários rappers começaram a destacar, como os Racionais MC’s e o jovem Altar Gonçalves, ou simplesmente Thaíde, que nos anos 1990 se juntou com o DJ Hum.
Single Afro-Brasileiro - 1995 - Thaíde e DJ Hum
Thaíde & DJ Hum lançaram no ano de 1994, laçaram um dos seus grandes álbuns de sucesso, o disco Brava Gente, com canções fazendo reflexões sobre contextos históricos brasileiros e questões raciais. Mas o grande sucesso veio em 1995, com o single Afro-Brasileiro, uma canção levando não só uma reflexão da origem de mais de 50% da população brasileira, mas trazendo uma afirmação de pertencimento identitário da cultura africana. Thaíde & DJ Hum, promove com a canção Afro-Brasileiro, um pertencimento e uma marca da luta dos movimentos negros brasileiros diante a uma sociedade de opressão e descriminação racial. No qual em pleno século XXI, as pessoas são jugadas pela cor da pele, e são excluídas pelas suas origens étnicas-raciais.  

Confira abaixo a Canção:
Afro-Brasileiro
Compositor/Cantor: Thaíde e DJ Hum.

E ai rapazeada como é que tá?
Estamos aqui de novo pra tentar fazer você dançar
Como velhos tempos tempos velhos velhos quais
Tempos velhos meus amigos pretos velhos
Que não voltam mais
Ancestrais seguidos de bravos guerreiros
Fazem o brasil inteiro se curvar
Diante de tal bravura
Que loucura
Só pra todo custo defender aquele lugar
Que alias se chamava palmares
E foi destruído por um velho
Que não era preto mais se chamava jorge
E com sua sorte e nosso azar
Matou todos do quilombo que hoje seria nosso lar
E mesmo assim de novo mostro a vocês, outra vez
A importância de ser
Negro por inteiro
Reconhecendo o seu valor
E por favor, respeitando o irmão mais claro
Que está sempre do seu lado
Torcendo pra você vencer
E crer
Na energia africana que
Emana das sementes espalhadas pelo mundo inteiro
Seja escuro, mas seja escuro e verdadeiro

Afro-brasileiro (sabe quem eu sou?)
Afro-brasileiro (me diga quem você é)
Afro-brasileiro (sabe quem eu sou?)
Afro-brasileiro
Afro-brasileiro (me diga quem você é)
Afro-brasileiro (sabe quem eu sou?)
Afro-brasileiro
Somos decendentes de zumbi
Grande guerreiro

Todo dia quando vou sair de casa pra rua
Faço o sinal da cruz pra fazer juz
À fé em deus e nos orixás
Sou duro na queda porque sou filho guerreiro de ogun com iemajá
E pra injuriar os conservadores imbecís
Tenho orgulho e bato no peito, sou decendente de zumbi
Grande líder negro brasileiro
Por nosso liberdade enfrentou exércitos inteiros
Mas acabou perdendo a cabeça
E não é a cara dele que eu vejo nas camisetas nos bótons toucas ou bombetas
Nem ganga zumba eu vejo nas jaquetas
Até o rap nos traiu importando santos pro nosso terreiro
Que falta de respeito
Por um homem de coragem que lutou pelos negros do brasil inteiro
Meu companeiro ou minha companheira
Não digam besteira, se assumam
Ensinem nossa cultura à sua família
A nossa tradição, a nossa evolução
Tudo isso está em suas mãos
(não é brincadeira não, estou falando sério)
95, trezentos anos de zumbi
Vamos homenageá-lo, agindo assim

Venha, que hoje é sexta
Eu vou chamar os refrigerantes e pra quem gosta cerveja
Vamos sentar aqui no chão
Colocar o blox do lado
E ouvir um som do gog, mano em pesado, câmbio negro e racionais meu irmão
Afinal o que bom tem que ser provado
Tanta coisa boa e você ai parado acuado
É por isso que insisto
Sou um preto atrevido
E gosto quando me chamam de macumbeiro
Toco atabaque em rodas de capoeira
E toco direito
Minha cultura primeiro
O meu orgulho é ser um negro verdadeiro

REFERÊNCIAS:
LETRA TERRA. Afro-Brasileiro – Thaíde e DJ Hum. Disponível em: https://www.letras.mus.br/thaide/afro-brasileiro/. Acessado em: 20/11/2018.

PETRIN, N. Biografia de Zumbi dos Palmares. IN.: Estudos Práticos – Terra. Disponível em: https://www.estudopratico.com.br/biografia-de-zumbi-dos-palmares/. Acessado em: 20/11/2018.

CEERT. Rapper Thaíde relembra os 30 anos de carreira comentando letras marcantes em livro. Disponível em: http://www.ceert.org.br/noticias/historia-cultura-arte/13116/rapper-thaide-relembra-30-anos-de-carreira-comentando-letras-marcantes-em-livro. Acessado em: 20/11/2018.

DISCOGS. Thaíde e DJ Hum. Disponível em: https://www.discogs.com/artist/141172-Thaide-DJ-Hum. Acessado em: 20/11/2018.

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