13 de out. de 2018

Espaço Musical: Bicho Homem

Raimundo Fagner é um dos grandes nomes da música brasileira, principalmente ao trazer em suas canções uma musicalidade poética. Fagner traz em suas referências vários nomes da poesia, como Francisco Carvalho. Seu conterrâneo, que fez parte da Academia Cearense de Letras, e traz em seus poemas reflexões diante o ser humano e a sociedade em sua volta. O poema Bicho Homem de Carvalho, musicado por Fagner no seu álbum Donos do Brasil, 2004, é uma mistura da música e poesia onde mostra toda a intelectualidade e arte do povo nordestino. 

Fagner 
O poeta e escritor Francisco Carvalho natural de Russas, Ceará, é um grande escrito e poeta, como vários outros nordestinos, que teve sua consagração ao entrar na Academia Cearense de Letras. Carvalho também foi reconhecido pelo seu conterrâneo Raimundo Fagner, que tem na referência do poeta, a inspiração para suas composições.
Fagner nascido em Orós, Ceará, em 13 de outubro de 1949, se tornou uma das maiores vozes da música popular brasileira, misturando vários ritmos e com letras poéticas. Teve vários inspiradores na poesia, que contribuíram para suas composições, ou sua musicalidade no qual musicou vários poemas. No seu álbum Donos do Brasil, 2004, o músico lançou a canção Bicho Homem, no qual musicou o poema de Francisco Carvalho, com mesmo título.  
Álbum: Donos do Brasil - 2004 - Raimundo Fagner
Um poema que nos leva a refletir o ser humano e suas ações no mundo. Podendo observar as consequências que o homem causou com todas suas transformações no mundo, desde questões como ganância, destruição e violência. Bicho Homem, é uma provocativa de questionamentos muito bem elaborada por Carvalho, e que Fagner nos traz como canção.



Confira abaixo a Canção:
Bicho Homem
Compositor/Cantor: Francisco Carvalho/ Raimundo Fagner

Que bicho é o homem que ama e desama, que afaga e magoa
E que às vezes lembra um anjo em pessoa?
O homem que vai para a eternidade num saco de lixo
Que bicho é o homem de salário fixo?
Que bicho é o homem que trapaceia, que às vezes pensa
Que é mais brilhante do que a papa ceia?
Que bicho é esse que escreve as vogais das cinzas do pai?
De onde ele veio e para onde vai?
Que bicho é o homem que se interroga léguas de volúpia
Sonhos e utopias tudo se evapora
Que bicho é o homem de argila e colosso que lavra e semeia?
Mas só colhe insônias em lavoura alheia?
Os rastros do homem no vento ou na água são rastros de fera
Mas que bicho é esse que se dilacera?
O homem suplica, os deuses concedem, que bicho é o homem
Que sempre regressa às praias do Éden?
Que bicho é o homem que escreve poemas na aurora agônica
E depois acende a fogueira atômica?

Que bicho te oferta um ramo de rimas
E à sombra dos mortos semeia gemidos por sete Hiroximas?
Que bicho te espreita aos olhos dos becos
Onde os cães insones mastigam as sombras dos antigos donos?
Que bicho é o homem que rasteja e voa, que se ergue e cai?
De onde ele veio e para onde vai?
Que bicho é o homem, de onde ele veio e para onde vai?
Onde é que entra de onde é que sai?

12 de out. de 2018

Espaço Musical: Ser Criança

O Dia da Criança é comemorado no dia 12 de outubro no Brasil, desde o ano de 1924. O músico e compositor Rubinho do Vale, é um dos cantores brasileiros que mais voltou suas canções para a criançada. Em 1991, o álbum Ser Criança, foi um dos seus trabalhos mais elogiados, e que trouxe como proposta preservar as cantigas de roda, e trazer na musicalidade regional do Vale do Jequitinhonha, canções para o público infantil. 

Rubinho do Vale
Em 05 de novembro de 1924 com o decreto de lei nº 4867, da proposta do deputado federal fluminense, Galdino do Valle Filho, oficializou o Dia da Criança no Brasil no dia 12 de outubro. A data teve uma mudança no ano de 1940 no governo Vargas, para o dia 25 de março. Mas nos anos de 1960 a data retornou para o dia 12 de outubro, após campanha publicitária das empresas Estrela e Johnson & Johnson.
Em outros lugares a comemoração muda de data, alguns inclusive seguem o calendário da Organização das Nações Unidas, comemorado no dia 20 de novembro, após a Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959. Outros seguem a data de 1º de junho como o Dia Internacional da Criança, após a Conferência Mundial para o Bem-Estar da Criança em Genebra, Suíça, em 1925.
Aqui no Brasil é um dia para celebrar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que tem como objetivo combater a vulnerabilidade, a violência e a desigualdade social deste público. Além de uma data para reviver a infância e dar maior atenção àqueles que a sociedade aposta serem a diferença para o futuro.
Álbum Ser Criança - 1991 - Rubinho do Vale
O músico e compositor Rubinho do Vale, do município de Rubim – MG, no Vale do Jequitinhonha, é reconhecido por trazer em sua musicalidade a regionalidade do Vale, além de voltar várias canções ao público infantil. Em 1991, Rubinho lançou o álbum Ser Criança, que promove várias canções para a criançada, preservando as cantigas de roda. A canção de mesmo nome do álbum, traz todo encantamento deste período tão marcante da vida, fazendo reflexões da importância de viver a infância.

Confira abaixo a Canção:
Ser Criança
Compositor/Cantor: Rubinho do Vale

Ser criança é bom demais
despreocupar com tudo que se faz
dar um pulo, um grito e uma risada
levar a vida bem vivida e bem amada

ter uma rua e um parque prá brincar
o dia inteiro sem ter hora de parar
depois dormir, sonhar com a fantasia
e acordar num mundo cheio de alegria

ter uma escola e uma casa prá morar
boa saúde prá brincar e prá correr
ter amor e carinho todo dia
e um mundo lindo e limpo prá poder viver

11 de out. de 2018

Espaço Musical: Índios

Em 11 de outubro de 1996, o Brasil perdia um dos grandes nomes da música, Renato Russo. Renato junto aos jovens Renato Rocha, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, formaram na década de 1980 a Legião Urbana, uma das maiores bandas musicais brasileira de todos os tempos. A canção Índios lançada no álbum Dois em 1986, é uma das mais famosas canções da banda, onde retrata a cultura indígena, e ao mesmo tempo uma reflexão da ganância humana, e das intolerâncias na sociedade. 

Legião Urbana
Em 1982 surgia a banda de punk rock Legião Urbana na cidade de Brasília, Distrito Federal. Entre diversos nomes que passaram pelo grupo musical, o baixista Renato Rocha, o baterista Marcelo Bonfá, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o cantor e compositor Renato Russo, foram fundamentais para o sucesso da banda.
Renato Russo, nascido na capital do Rio de Janeiro, ainda criança mudou-se para Brasília, é um dos fundadores da banda, e um dos maiores nomes da música brasileira. Reconhecido pelas suas composições, Renato morreu aos 36 anos, no dia 11 de outubro de 1996, deixando um legado a juventude brasileira.
Álbum Dois - 1986 - Legião Urbana
Entre tantas canções, Índios, lançada no álbum Dois, em 1986, com um estilo pós-punk, promove uma demonstração da musicalidade brasileira, e de uma reflexão da cultura indígena, a colonização portuguesa no Brasil, e a ganância humana. A canção reconhecida entre uma das mais importantes da banda Legião Urbana, é um exemplo do quando Renato Russo e a Legião, se tornaram um símbolo da música crítica e jovem no Brasil.
Trazer Índios nos tempos atuais, não é só refletir um contexto histórico brasileiro, mas é observar a mensagem em que o compositor deixa diante a ganância e a intolerância da sociedade. Podemos observar a questão dos impactos socioambientais, a questão da violência simbólica, e até mesmo da intolerância religiosa, e o uso da religiosidade para os interesses e ganância do sistema de produção capitalista.

Confira abaixo a Canção:
Índios
Compositor/Cantor: Legião Urbana – Renato Russo.

Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha

Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano de chão
De linho nobre e pura seda

Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente

Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente

Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim

E é só você que tem a
Cura pro meu vício de insistir
Nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes

Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado

Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim

E é só você que tem a
Cura pro meu vício de insistir
Nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui

2 de out. de 2018

Espaço Musical: Apenas um Rapaz Latino-Americano

Em 1976 era lançado o álbum Alucinações do cantor e compositor Belchior, que trazia seus grandes sucessos. Entre várias canções destaca a música Apenas um Rapaz Latino-Americano, que nos provoca a partir da história vivida pelo cantor, refletir a história de um jovem migrante cearense para o Rio de Janeiro em plena ditadura militar, entendendo as censuras e a opressão diante a liberdade que este período ficou marcado na história do Brasil. 

Belchior
Em 26 de outubro de 1946, nascia na cidade de Sobral - CE, Antônio Carlos Belchior, ou simplesmente Bel, que ainda criança já mostrava seus dons musicais e poéticos. Aos 16 ano mudou-se para a capital cearense, Fortaleza, e começou a estudar filosofia e humanidades, e logo em seguida ingressou na Faculdade Federal do Ceará, no curso de medicina, no qual abandonou. Foi quando se juntou a Fagner, Ednardo, Rodger Rogério, Teti, Cirino entre outros jovens músicos cearenses, formando o grupo O Pessoal do Ceará.
A partir daí o Rapaz Latino-Americano, engajou de vez no mundo da música. Apresentando em vários festivais em todo Nordeste, decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro no ano de 1971. “Sem dinheiro no bolso, sem amigos importantes e vindo do interior”, Bel chega na capital carioca, diante um fervor do governo militar na época.
No ano de 1976, Belchior lança seu grande disco, o álbum Alucinações, que traz
Álbum Alucinações - 1976 - Belchior
diversas canções que nos promove refletir o Brasil daquela época, de uma forma poética e filosófica. Entre tantos sucessos, a faixa 1 do lado A do disco, foi o maior sucesso do cantor poeta, Apenas um Rapaz Latino-Americano, que trouxe sua história e as críticas a ditadura militar.
 A canção que traz versos fortes, reflete a vinda do autor do interior do Ceará, para o Rio de Janeiro, colocando sua motivação a partir das canções de Caetano e Gil, com o movimento Tropicalismo. Ao longo da canção, o jovem cantor latino-americano, vai descrevendo suas vivências, e mostrando como a censura e a falta da liberdade faziam parte daquela época. É onde o cantor provoca o regime, e promove a compreensão de como as pessoas viam este período.
A canção é uma boa reflexão para compreender a realidade social de uma época marcada pela falta de liberdade. Além de provocar como a juventude observava um governo autoritário, e se colocava diante ele. Apenas um Rapaz Latino-Americano é uma história de vários jovens, assim como Belchior, que saíram na busca de algo melhor.

Confira abaixo a Canção:
Apenas um Rapaz Latino-Americano
Compositor/Cantor: Belchior.

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior

Mas trago de cabeça
Uma canção do rádio
Em que um antigo
Compositor baiano
Me dizia
Tudo é divino
Tudo é maravilhoso

Mas trago de cabeça
Uma canção do rádio
Em que um antigo
Compositor baiano
Me dizia
Tudo é divino
Tudo é maravilhoso

Tenho ouvido muitos discos
Conversado com pessoas
Caminhado meu caminho
Papo, som, dentro da noite
E não tenho um amigo sequer
Que ainda acredite nisso não
Tudo muda!
E com toda razão

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior

Mas sei
Que tudo é proibido
Aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido
Até beijar você
No escuro do cinema
Quando ninguém nos vê

Mas sei
Que tudo é proibido
Aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido
Até beijar você
No escuro do cinema
Quando ninguém nos vê

Não me peça que eu lhe faça
Uma canção como se deve
Correta, branca, suave
Muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém

Mas não se preocupe meu amigo
Com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida realmente é diferente
Quer dizer
Ao vivo é muito pior

E eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Por favor
Não saque a arma no Saloon
Eu sou apenas o cantor

Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo!
À tarde, às três
Que à noite
Tenho um compromisso
E não posso faltar
Por causa de vocês

Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo!
À tarde, às três
Que à noite
Tenho um compromisso
E não posso faltar
Por causa de vocês

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior
Mas sei que nada é divino
Nada, nada é maravilhoso
Nada, nada é secreto
Nada, nada é misterioso, não

1 de out. de 2018

Espaço Musical: Envelhecer é uma Arte.

O Dia Internacional do Idoso, surge como uma data instituída pela ONU, para promover reflexões e sensibilizações diante o envelhecimento. Em 1976, Adoniram Barbosa com seus 66 anos compôs a canção Envelhecer é uma Arte, onde ele de forma distraída e com um bom samba, faz uma reflexão do que é envelhecer. 

Adoniram Barbosa
Em 1º de outubro de 1991, a Organização das Nações Unidas – ONU, instituiu o Dia Internacional do Idoso, data que comemora uma das fases da vida onde se promove reflexões. Envelhecer é um dos grandes desafios, pois ao mesmo tempo onde todos querem uma vida prospera e extensa, a não aceitação da velhice também é algo presente nesta longevidade.
A data serve para olharmos mais para este grupo etário, e pensar quais são os desafios para o mundo que tem cada vez mais uma população envelhecida. Desde questões de violência e vulnerabilidade social a este grupo, as questões de como viver bem e saudável na conhecida “terceira idade”.
Outro ponto principal, é derrubar tabus e preconceitos sobre o envelhecer, onde existe principalmente o sentido do descarto e o desrespeito a capacidade daqueles segundo o Estatuto do Idoso, que define aqueles com mais ou igual a 60 anos de idade, é definido como idoso.
Em 1976, o sambista paulista, Adoniram Barbosa, no auge dos seus 66 anos, gravou
Compacto - Envelhecer é uma Arte - 1976
um dos seus últimos discos, o compacto com duas faixas, sendo uma delas a canção Envelhecer é uma Arte, onde mostra de forma simples, bem-humorada, e bastante refletivo o chegar da velhice, e como ela pode ser tratada como algo bom.
O samba de Adoniram, um dos mais emblemáticos compositores brasileiros, já promovia na década de 1970 reflexões de um tema que hoje tem maiores estudos e reflexões. O envelhecimento remete mais do que apenas uma fase da vida, mas toda uma filosofia entorno da experiência, sabedoria, e modo de vida.

Confira abaixo a Canção:
Envelhecer é uma Arte
Compositor/Cantor: Adoniram Barbosa.

Velho amigo não chore
Pra que chorar
Por alguém te chamar de velho
Não decola, não esquente a cachola

Quando alguém lhe chamar de velho
Sorria cantando assim:
Sou velho e sou feliz
Mas velho é quem me diz

Comigo também acontece
Gente que nem me conhece
Gente que nunca me viu
Quando passa por mim:
- alô velho! alô tio!

Eu não perco a estribeira
Levo na brincadeira
Saber envelhecer é uma arte
Isso eu sei, modéstia à parte

Interpretes do Brasil: Milton Santos.


Baseando no portal Interpretes do Brasil, pretendo aqui além dos grandes nomes considerados pelo portal, como grandes intelectuais brasileiros, trazer outras personalidades que representaram e representam estes interpretes da realidade social, política, econômica e cultural do Brasil. Como interprete da realidade brasileira de hoje, Milton Santos, o baiano, negro, doutor em Geografia.

Milton Santos
No dia 03 de maio de 1926, no município de Brotas de Macaúbas, Chapada Diamantina, Bahia, Brasil, nascia Milton Almeida dos Santos, que migrou por algumas cidades baianas, até chegar junto com sua família até a capital Salvador. E desde pequeno já demonstrava sua intelectualidade.
Graduado na Universidade Federal da Bahia, em Direito, no ano de 1948, Milton Santos, acabou seguindo seus estudos para geografia, começando com aulas de geografia no ensino médio, até o seu doutorado na Universidade de Strasbourg na França em 1958. Onde começava ali a sua carreira acadêmica em grandes universidades brasileiras e dos países onde passou.
Se tornou um dos grandes nomes da pesquisa implicada na realidade social nos anos de 1960. Como sua tese de doutorado O Centro da Cidade de Salvador (1959), o geografo buscou refletir as transformações da cidade diante efeitos da modernização e da urbanização.
Milton Santos professor de geografia humana na Universidade Federal da Bahia, como muitos intelectuais de sua época, sofreu com a intervenção militar nos anos de 1964. Diante o golpe de Estado, Milton foi forçado a deixar o país diante sua posição política. Mas teve diante este cenário, a oportunidade de desenvolver suas pesquisas dentro de grandes centros de pesquisas e universidade renomadas.
Suas primeiras experiências internacionais foram na França, nas Universidades de Toulouse, Bordeaux, Paris-Sorbonne, e no IEDES (Institutode Estudos de Desenvolvimento Econômico e Social). Entre 1971 a 1977, passou por outros países, e teve assim experiências acadêmicas que contribuíram para seu desenvolvimento teórico. Nos Estados Unidos passou pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) em Boston, Columbia University em Nova Iorque, também passou pelas Universidade de Toronto – Canadá, Caracas – Venezuela, Dar-es-Salam, Tanzânia.
Em 1977 retornou para o Brasil, mas só em 1979 ingressou novamente o ofício de professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde ficou até o ano de 1983. Foi quando ingressou por concurso na Universidade de São Paulo, onde se tornou o professor de geografia humana até o final de sua carreira, se tornando em 1997 professor emérito.
Ao logo de sua vida, Milton Santos foi contemplado dezenove vezes com o título de Doutor Honoris Causa, prêmio máximo cedido por uma instituição de ensino superior, a pessoas que fizeram a diferença para a sociedade. Mas o prêmio mais importante para Milton Santos foi o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, em 1994, pela sua obra Por uma Geografia Nova, da crítica da geografia a uma geografia crítica (1978).
Por uma Geografia Nova - Milton Santos
Milton Santos se torna um dos grandes nomes dos estudos científicos da Geografia, por retratar desde os estudos micros aos macros, dentro de uma reflexão crítica da realidade social analisada. Sua idealização de provocar dentro dos estudos da geociência o papel de uma Geografia Nova, é elevar o papel dos estudos dentro da geografia, para uma reflexão mais ampla da realidade em nossa volta.
Milton traz em sua obra, uma reflexão do fator ideológico da disciplina Geografia surgiu para os interesses dos grupos dominantes. Onde o sistema capitalista a utilizou para suas expansões. E diante este ponto, como a Geografia precisava ser revista e provocar a reflexão crítica da realidade, diante as mudanças do espaço dentro do fenômeno da globalização, efeitos promovidos pelo sistema. Para isto o geógrafo deve buscar nesta Geografia Nova, um outro viés:
Os geógrafos, ao lado de outros cientistas sociais, devem se preparar para colocar os fundamentos de um espaço verdadeiramente humano, um espaço que uma os homens por e para seu trabalho, mas não para em seguida os separar entre classes, entre exploradores e explorados; um espaço matéria inerte trabalhando pelo homem, mas não para se voltar contra ele; um espaço, natureza social aberta à contemplação direta dos seres humanos, e não um artifício; um espaço instrumento de reprodução da vida, e não uma mercadoria trabalhada por uma outra mercadoria, o homem artificializado. (SANTOS, p. 266, 2004).

Em 1994, também veio seu grande desafio, diagnosticado com câncer, Milton Santos, lutou contra a doença até dia 24 de junho de 2001, quando em dia de São João comemorado no interior da Bahia, um dos maiores nomes da geografia humana, crítica, faleceu. Deixando grandes obras e novas reflexões para os estudos da realidade social.

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