13 de mai. de 2022

Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima.

A religiosidade e a identidade de Taiobeiras, Norte de Minas Gerais, passa pela arquitetura da Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima.

Em meio às tensões em toda Europa durante a Primeira Guerra Mundial, no ano de 1917, foi na região da cidade de Fátima em Portugal que surgiu um conforto de paz. Três crianças pastorinhas, Lúcia, Francisco e Jacinta, vivenciaram no dia 13 de maio, a primeira aparição de Nossa Senhora do Rosário, que ficaria assim conhecida como Nossa Senhora do Rosário de Fátima, ou simplesmente Nossa Senhora de Fátima.

Ela trazia aquelas crianças falas de paz diante os conflitos da guerra, e durante seis meses, todo dia 13, em, exceção o dia 19 de agosto, ela apareceu as três crianças no local chamado Cova de Iria, nas proximidades de Fátima, promovendo orações pelo fim da guerra. Sendo a ultima aparição no dia 13 de outubro, reunindo na localidade uma multidão que foram a convite feio por Nossa Senhora através dos três pastorinhos, trazendo sua mensagem de paz e do fim da grande guerra.

Ao longo de mais de um século do milagre de Nossa Senhora de Fátima, sua mensagem de paz, foi levada por todos os cantos do mundo. Em 1957, na cidade de Taiobeiras – MG, que havia apenas quatro anos de emancipação, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, vinda diretamente da cidade portuguesa onde o milagre havia ocorrido, chegou através do pedido do Frei Jucundiano, que em sua homenagem ergueu uma capela as margens da pequena cidade do norte do Estado de Minas Gerais.

Com uma arquitetura peculiar, em formato octaedro, a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, que possui vários significados, se tornou símbolo religioso e cultural de Taiobeiras, sendo um dos principais patrimônios históricos culturais do município.

Ela não é única em seu formato, mas se torna especial na identidade local, e na representatividade arquitetônica das Minas e dos Gerais. Entre vários significados da arquitetura octogonal, destacam as oito bem aventuranças deixadas por Cristo segundo o Evangelho de São Mateus, e também o formato da Cruz em Cristo, dentro da formação do sinal da Cruz, e da letra X, que em grego refere-se a Jesus Cristo.

Mas na identidade taiobeirense, a Igrejinha e sua arquitetura diferenciada, marca a identidade do pertencimento, o lugar de memória, o afeto a origem e a história de Taiobeiras, no sertão mineiro, e das Gerais da microrregião do Alto Rio Pardo. E ao longo de mais de 70 anos, o município fica em festa durante o mês de Maio, em homenagem a Nossa Senhora de Fátima.

8 de mar. de 2022

O Matriarcado em: A Noiva do Cordeiro

Maria Senhoria de Lima é responsável pela origem da comunidade rural da Noiva do Cordeiro em Belo Vale – MG, que hoje tem em sua neta Dona Delina a representatividade do Matriarcado. 

No final do século XIX, inicio do século XX no interior de Minas Gerais, na área rural do município de Belo Vale, que uma das comunidades rurais mais singulares do Brasil surgiu. Uma história de filme de Hollywood, de uma noiva que no dia do casamento forçado, fugiu com o amante, mas como consequências, foram excomungados pela igreja, e excluídos pela sociedade local. Lembrando que era inicio do século passado, em uma sociedade rural tradicional.

O casal Maria Senhorinha de Lima e Francisco Fernandes se isolaram inclusive seus descendentes também sofreram com as consequências. E assim tiveram que construir suas vidas sem apoio de ninguém, formando uma nova comunidade.

Na década de 1950, a comunidade passou por uma grande mudança. Delina de 16 anos, neta de Maria Senhorinha de Lima, casou com um pastor evangélico chamado Anísio Pereira de 43 anos, no qual tiveram 15 filhos. Mas o que marca neste período é que Anísio fundaria na comunidade uma igreja evangélica, que na época eram rejeitadas por uma sociedade majoritariamente católica, isolando ainda mais a comunidade. Esta igreja era bastante rígida e fundamentalista, estendendo até a década de 1990, quando em uma reunião da comunidade liderada por Delina pós fim com a igreja de Noiva do Cordeiro e seu fundamentalismo.

Iniciava naquele momento uma nova geração, principalmente por mulheres empoderadas descendentes da Maria Senhorinha de Lima, que não aceitariam que o patriarcalismo e suas raízes as inferiorizassem e colocasse como deveriam se comportar.

Noiva do Cordeiro - Belo Vale - MG

A comunidade rural Noiva do Cordeiro iniciava sua era Matriarcal, o que diferencia esta comunidade de tantas outras espalhadas no país. O Matriarcalismo é um conjunto de ações relacionados a organização e poder sobre um grupo e/ou sociedade, gerida pelo sexo feminino. É importante entender que o sistema matriarcal não se associa ao patriarcalismo, que está associado a uma visão do machismo e todas as formas de exclusão associados a este.

Assim este regime feminista, que busca ser justo e igualitário, no sentido de equidade, teve em Dona Delina, matriarca da comunidade Noiva do Cordeiro, um exemplo de luta e resistência, as opressões a todos os descendentes de Maria Senhorinha, que por conta do machismo presente na estrutura do sistema patriarcal brasileiro, sofreu por não aceitar um casamento forçado. Apesar de ver o caso se repetir com Delina, houve uma superação, e uma transformação na comunidade como um todo.

Ao longo de gerações, a comunidade foi excluída na região de Belo Vale o que forçava uma migração sazonal dos homens da comunidade para a capital de minas, Belo Horizonte, que fica a 100 km da região. Nisto as mulheres é que faziam tudo na comunidade, da produção do campo aos cuidados da família e da casa. Isto contribui até hoje para que na comunidade de mais de 300 habitantes, sendo em sua maioria, descendentes do casal fundador, tenha mulheres empoderadas e que lideram a comunidade.

Noiva do Cordeiro mostra a luta das mulheres, e como o matriarcal é mais justo e igualitário, sendo que mesmo com todo o processo de exclusão sofrido, hoje a comunidade é exemplo de organização, sustentabilidade econômica, social e ambiental. Que as liberdades de crença, sexuais e gênero se faz presente. Com uma cultura singular em meio a uma sociedade marcada pela cultura dominante, influenciada pela homogeneização cultural ocidental, regada de intolerância, racismo e machismo, e mesmo assim resistindo e transformando.

28 de fev. de 2022

Mamona

Do oriente ao Sertão Mineiro, a Mamona que tem sua origem nos continentes asiático e africano, chegou ao Brasil desde a colonização portuguesa e se identificou com o bioma da Caatinga, tendo o município de Mamonas, Minas Gerais, seu lugar de pertencimento. 

A mamona é uma planta da família das xerófilas e heliófilas, tendo sua origem no oriente, espalhada em várias partes da Ásia, e também na região do Chifre da África, mais específico na Etiópia. E chegou ao Brasil desde a época da colonização portuguesa, e a diáspora africana.

O fruto da mamoneira se popularizou por conta do seu óleo, ótimo para usar como combustível e lubrificante, era usado muito para acender lamparinas, e lubrificar carroças, e hoje é responsável pela produção de vários produtos feitos de biocombustíveis.

Na década de 1990, ficou ainda mais popular pela banda paulista Mamonas Assassinas, que tem este nome pelo fato do fruto da mamoneira ser usado para “brincadeiras de guerrinhas”.

A mamona também virou símbolo da economia na mesorregião do Norte de Minas Gerais, sendo no antigo povoado Santo Antônio das Mamonas, hoje apenas Mamonas, na Caatinga Mineira, se fazendo presente.

16 de jan. de 2022

Povos e Comunidades Tradicionais: Catrumanos

Os Catrumanos são povos tradicionais no Sertão Brasileiro, ligados a identidade da ruralidade. No Sertão Mineiro, em Montes Claros Norte de Minas Gerais a identidade catrumana se faz presente, surgindo assim em, 2005 o Movimento Catrumano.

O significado de Catrumano segundo Aurélio, procede de “quatro-mano e se refere ao caipira, forma como é identificado o habitante do campo ou da roça, particularmente o de pouca instrução e de convívio, de modos rústicos e canhestros.” Também associado ao matuto, “a vinculação do catrumano com o caipira deve-se ao fato deste ser um sertanejo, ou seja, um habitante do sertão.”

O viajante europeu Auguste de Saint-Hilaire (1975) denominou o conceito de catrumano, ao percorrer o sertão, no qual ele mencionava o deserto, “surpreendeu-se ao ver que os sertanejos sempre estavam a cavalo, independentemente de sua situação econômica.” E assim ele associa a imagem do povo sertanejo como àquele que vivi sempre sobre quatro patas, ou o humano de quatro patas.

“Porém, dada a força da ficcionalização construída por João Guimarães Rosa que tomou a realidade regional norte mineira para discutir o Brasil e, em Grande Sertão: Veredas, ele se referir a um grupo de catrumanos, como definido posteriormente por Aurélio, a partir do deslizamento de significado construído pelos mineiros, a palavra passou a conter apenas os significados vinculados aos habitantes do mais fundo do sertão, ou seja, a região Urucuiana que possuía homens, considerados de pouca instrução e de convívio e modos rústicos e canhestros. (ALMEIDA, 2021, p. 143)

Segundo o Movimento Catrumano, o significado da palavra representa aquele que emerge do interior do país, ligado às questões socioeconômicas pastoris. “Ao mesmo tempo, procurou desconstruir o significado pejorativo e discriminatório que a palavra contém, enquanto buscava resgatar o lugar dos Gerais na formação e consolidação da sociedade mineira, positivando o termo”.

Pintura de Almeida Júnior

Assim João Batista Almeida Costa (2021) menciona que “o Movimento Catrumano emergiu no cenário político estadual para construir poder simbólico para a região, a partir do reconhecimento que a “nação” Minas Gerais é dual.” É nesta lógica que a ideia de identidade catrumana do sertão de Minas Gerais, compreende que “há as Minas e há os Gerais e neste encontra-se o norte de Minas, que se inventa a si mesmo, constantemente, nas vivências das diversas populações que residem em seu amplo território sertanejo”.

15 de jan. de 2022

Coquinho Azedo

O Coquinho Azedo é um fruto típico do Cerrado mineiro, baiano e goiano, de sabor e aroma marcante. Sendo o território Catrumano seu lugar de pertencimento. 

O coquinho azedo é uma palmeira de porte médio típica do Cerrado Brasileiro, principalmente nos Estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás. Também é conhecido como coquinho, coco-cabeçudo ou butiá. Sua copa é coberta por folhas verde-acinzentadas que, à luz do sol, lhe confere um brilho particular. A árvore pode alcançar quatro metros de altura e possui flores amarelas que brotam em cachos.

Os frutos são arredondados, medem cerca de 2 centímetros de comprimento e quando maduros tem coloração amarela, com polpa comestível de sabor azedo a adocicado, rica em fibras, vitaminas A e C.

E foi no território Catrumano, no Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa, que o coquinho azedo se tornou símbolo. De sabor marcante, se faz desde o suco, sorvete, licores e até cerveja artesanal, conquista o paladar de quem o conhece.

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