18 de ago. de 2018

Canto Poético: Parangolivro.

A arte da poesia pode provocar vários sentidos e sentimentos, e ao mesmo tempo não ter sentido algum, mas o sentimento ainda persiste. O poeta Aroldo Pereira é um dos grandes nomes da poesia norte-mineira, e em sua obra Parangolivro, o poeta se inspira em Hélio Oiticica, com o conceito da arte parangolé, dentro de uma desintelectualização nas obras artísticas. E com esta visão o poema Parangolivro, em homenageia a cantora e compositora Adriana Calcanhoto a partir da canção Parangolé Pamplona.

Aroldo Pereira
O poeta, ator, compositor, agitador cultural e performer João Aroldo Pereira, nasceu em Coração de Jesus, mas foi em Montes Claros, que ficou reconhecido como um dos grandes nomes da poesia norte-mineira. Autor de diversas obras, o poeta traz desde uma linguagem acadêmica a simplicidade com a cultura popular, uma rica obra de poesias que provoca vários sentimentos. De posição política e identitária, a um simples fato cotidiano.
Integrante fundador do Grupo de Literatura e Teatro Transa Poética, e criador do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético. O poeta Aroldo Pereira, é uma das grandes referências da identidade cultural catrumana, norte-mineira. Em sua obra Parangolivro de 2007, Aroldo promove uma reflexão ao artista plástico Hélio Oiticica, que conceituou o termo parangolé, que traz o sentido de uma “anti-arte”, ou o sentido de uma desintelectualização da arte, dando a ela uma maior liberdade de se movimentar, sem se prender a técnica e método. “Tais  características  apontam para  um  sentido  de  uma  poética fora do senso comum e a contrapelo da previsibilidade, o que nos remete quase que espontaneamente ao termo “marginal”.”(RABELLO, p.305, 2014)
Outra grande inspiração a sua obra, Aroldo tem a referência com a canção Parangolé Pamplona da cantora e compositora Adriana Calcanhoto, na qual foi a grande dedicação do poema-título, Parangolivro.
Segundo  o Novo Dicionário de Língua Portuguesa,  marginal  é  aquilo  relativo  à margem,  pertencente  a  lugares  marginais.  Nota marginal, por exemplo, é o que se escreve na margem da folha de um livro ou de qualquer documento escrito, não integralizando o corpo do texto propriamente dito. O indivíduo que se põe fora das leis, é o que vive à margem da sociedade; considerado também indigente, vadio, delinquente ou simplesmente pertencente a uma minoria social (Ferreira 2001: 189). Se considerarmos tais significados, Aroldo Pereira apresenta-se, desde o início de seu livro, como um poeta marginal, como se lê no poema-título, “Parangolivro”, dedicado a Adriana Calcanhoto. (RABELLO, p.306, 2014).
Parangolivro traz assim a liberdade da poesia, e abre a outros olhares, dentro desta “marginalidade” que a poesia pode ocupar. Aroldo como um poeta de grande variedade e movimento, traz este perfil de poeta marginal que a Ivana Rabello retrata em suas reflexões da obra do poeta.

PARANGOLIVRO
Por: Aroldo Pereira

 Negro pobre poeta
(...)
ler e descobrir
escrever bater com a cabeça
Aroldo Pereira
uma arma em nossa mira
viver longo
cada instante
olhar os filhos sem fim
caminhar sob o sol
fugir do inferno de si
o azul não suporta o cavalo
mentir é arma de domínio
negro
pobre
poeta
uma chuva rala
uma
procissão
de indiferentes
o corpo permanece
no asfalto Parangolivre.

17 de ago. de 2018

Espaço Musical: Abecedário Catrumano

As Festas de Agosto em Montes Claros trazem em sua essência a identidade Catrumana, com a representatividade da religiosidade a Nossa Senhora do Rosário, a São Benedito e ao Divino Espírito Santo. Diante as diversidades culturais brasileiras, a cultura Catrumana tem uma grande representatividade a partir da resistência e valorização da ruralidade que relaciona a esta identidade cultural, e os traços das identidades de matrizes africanas, indígenas e europeias, nesta promoção da identidade brasileira. A canção poética de Téo Azevedo em parceria com Braúna, “Abecedário Catrumano”, traz traços desta identidade, que marca uma das maiores festas culturais brasileira, A Festa dos Catopês, Marujos e Caboclinhos em Montes Claros. 

Obra 'Mestre Zanza' de Petter Frank
As Festas de Agosto em Montes Claros – MG, é uma das maiores festas culturais no Brasil, isto se dá por conta da identidade cultural de resistência e de pertencimento que é promovida dentro da festividade. A festa de catopés, marujos e caboclinhos, festeja a religiosidade cristã católica, dentro de um contexto de sincretismo com as religiosidades de matrizes africanas e indígena, em honra a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e o Divino Espírito Santo, onde cada dia da festa é cortejado uma das santidades, e no último dia da festa, as três santidades são homenageadas.
Todos estes traços fazem parte da identidade catrumana, norte-mineira. O professor e doutor João Batista de Almeida Costa, Joba, refere esta identidade no Norte de Minas, com um dualismo:
Mesmo recentemente, a dualidade permanece. Os norte-mineiros aprendem na escola que são mineiros, o que os torna apaixonados por Minas Gerais. Quando saem do Norte, porém, e começam a falar em outro lugar, outros mineiros lhes perguntam: “Você é baiano de onde? ” Não existe nada mais triste para a gente norte-mineira do que o não-reconhecimento pelos mineiros de que são, culturalmente, parte de Minas Gerais. Por essa razão é que, atualmente, existe o Movimento Catrumano, que propõe a valorização simbólica do Norte de Minas e sugere que Minas Gerais deva reconhecer a existência de sua dualidade. Como Mariana é celebrada por ter sido berço da cultura e da civilização mineira, esse movimento encaminhou pelos deputados regionais a celebração da cidade de Matias Cardoso como o outro berço da cultura e da civilização mineira. O projeto de emenda constitucional pretende que ocorra a transferência simbólica da Capital do Estado para a cidade que foi o berço do povoamento da região norte-mineira. Assim, pode-se reconhecer a existência dessa dualidade e valorizar a participação da realidade do Norte de Minas como parte da realidade de Minas Gerais. (COSTA, 124-125, 2009).

Dentro desta dualidade, está presente uma identidade cultural diferenciada, que tem presença da matriz da ruralidade sertaneja, e das matrizes básicas, africana, indígena e europeia. Mas diferenciada de outras identidades culturais com esta base.
Téo Azevedo
Em 2012, Téo Azevedo, lançou no disco Salve 100 anos de Gonzagão, homenageando os 100 anos do Rei do Baião, que foi premiado como “Melhor Álbum de Raiz” no Grammy Latino daquele ano, em Las Vegas, Estados Unidos. Entre as canções no álbum, estava a canção Abecedário Catrumano, em parceria com o cantor e compositor Braúna, que traz o linguajar da cultura norte-mineira, e promove assim a identidade cultural dentro da ruralidade Catrumana.

Confira abaixo a Canção:

7 de ago. de 2018

Espaço Musical: Quebra de Milho

Em 1977 um dos maiores grupos de música regional de Minas Gerais, o Grupo Agreste, surgia no Festival Universitário organizado pela antiga FAFIL (Faculdade de Filosofias e Letras), hoje Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros), na cidade do Norte de Minas, Montes Claros. Com canções que se tornaram símbolos da identidade catrumana, e da tradicional Festa de Agosto em Montes Claros. A canção Quebra de Milho de 1982, traz as características desta identidade cultural, que a obra do grupo promove, com os valores da ruralidade, e da regionalidade da cultura baianeira (cultura norte-mineira). 

Grupo Agreste - Chegança - 1982
O Grupo Agreste, composto por Pedro Boi, Gutia, Zé Chorró, Sérgio Damasceno, Tom Andrade, Manoelito, Toninho e Ildeu Braúna, surgiu no Festival Universitário da Canção Popular organizada pela antiga Faculdade de Filosofias e Letras de Montes Claros, no ano de 1977. Em um período que a música regional ganhava espaços em eventos acadêmicos e nos meios de comunicação.
Formado por grandes músicos, entre eles sociólogos, artistas plásticos, poetas e jornalistas, o Grupo Agreste tem como características o regionalismo da cultura norte-mineira. Uma mistura do sertão baiano com o sertão mineiro. Traz a valorização da ruralidade presente nesta identidade cultural, com letras retratando o cotidiano do interior, e do trabalho ligado ao campo.
Tendo uma valorização da identidade Catrumana, identidade cultural presente nas diversidades culturais do Norte de Minas, traga na tese de doutorado, do Professor João Batista de Almeida Costa, Mineiros e Baianeiros: Englobamento, Exclusão e Resistência.
Grupo Agreste no antigo prédio da FAFIL - Anos de 1970
A música Quebra de Milho, lançada no disco Chegança de 1982, do Grupo Agreste, nos leva a observar esta ruralidade, e esta identidade regional que o grupo traz em suas letras e melodias. Mostrando o sentido do plantio a colheita do milho, e o processo com a relação com as características ambientais da região norte-mineira do semiárido brasileiro.

Confira abaixo a Canção:
Quebra de Milho
Compositor/Cantor: Grupo Agreste

A terra é a mãe,
isso não é segredo
O que se planta
esse chão nos dá
Uma promessa
a São Miguel Arcanjo
Prá mandar chuva
pro milho brotar...

Passou setembro,
outubro já chegou
Já vejo o milho
brotando no chão
Tapando a terra
feito manto verde
Prá esperança do meu coração

Mês de dezembro,
vem as boas novas
A roça toda já se embonecou
Uma oração
agradecendo a Deus
E comer o fruto
que já madurou...

Mês de janeiro,
comer milho assado
Mingau e angú
no mês de fevereiro
Na palha verde
enrolar pamonha
E comer cuscuz
durante o ano inteiro

Quando é chegado
o tempo da colheita
Quebra de milho,
grande mutirão
A vida veste sua roupa nova
Prá ir no baile lá no casarão...

Destaque