A arte da poesia
pode provocar vários sentidos e sentimentos, e ao mesmo tempo não ter sentido
algum, mas o sentimento ainda persiste. O poeta Aroldo Pereira é um dos grandes
nomes da poesia norte-mineira, e em sua obra Parangolivro, o poeta se inspira em Hélio Oiticica, com o conceito
da arte parangolé, dentro de uma
desintelectualização nas obras artísticas. E com esta visão o poema Parangolivro, em homenageia a cantora e
compositora Adriana Calcanhoto a partir da canção Parangolé Pamplona.
Aroldo Pereira |
O poeta, ator, compositor,
agitador cultural e performer João Aroldo Pereira, nasceu em Coração de Jesus,
mas foi em Montes Claros, que ficou reconhecido como um dos grandes nomes da
poesia norte-mineira. Autor de diversas obras, o poeta traz desde uma linguagem
acadêmica a simplicidade com a cultura popular, uma rica obra de poesias que
provoca vários sentimentos. De posição política e identitária, a um simples fato
cotidiano.
Integrante fundador do Grupo
de Literatura e Teatro Transa Poética, e criador do Salão Nacional de Poesia Psiu
Poético. O poeta Aroldo Pereira, é uma das grandes referências da identidade
cultural catrumana, norte-mineira. Em sua obra Parangolivro de 2007, Aroldo promove uma reflexão ao artista
plástico Hélio Oiticica, que conceituou o termo parangolé, que traz o sentido
de uma “anti-arte”, ou o sentido de uma desintelectualização da arte, dando a
ela uma maior liberdade de se movimentar, sem se prender a técnica e método. “Tais características apontam para
um sentido de
uma poética fora do senso comum e
a contrapelo da previsibilidade, o que nos remete quase que espontaneamente ao
termo “marginal”.”(RABELLO, p.305, 2014)
Outra grande inspiração a
sua obra, Aroldo tem a referência com a canção Parangolé Pamplona da cantora e
compositora Adriana Calcanhoto, na qual foi a grande dedicação do poema-título,
Parangolivro.
Segundo o Novo
Dicionário de Língua Portuguesa,
marginal é aquilo
relativo à margem, pertencente
a lugares marginais.
Nota marginal, por exemplo, é o que se escreve na margem da folha de um livro
ou de qualquer documento escrito, não integralizando o corpo do texto
propriamente dito. O indivíduo que se põe fora das leis, é o que vive à margem
da sociedade; considerado também indigente, vadio, delinquente ou simplesmente
pertencente a uma minoria social (Ferreira 2001: 189). Se considerarmos tais
significados, Aroldo Pereira apresenta-se, desde o início de seu livro, como um
poeta marginal, como se lê no poema-título, “Parangolivro”, dedicado a Adriana
Calcanhoto. (RABELLO, p.306, 2014).
Parangolivro traz assim a
liberdade da poesia, e abre a outros olhares, dentro desta “marginalidade” que
a poesia pode ocupar. Aroldo como um poeta de grande variedade e movimento,
traz este perfil de poeta marginal que a Ivana Rabello retrata em suas reflexões
da obra do poeta.
PARANGOLIVRO
Por: Aroldo Pereira
Negro pobre poeta
(...)
ler e descobrir
escrever bater com a cabeça
Aroldo Pereira |
uma arma em nossa mira
viver longo
cada instante
olhar os filhos sem fim
caminhar sob o sol
fugir do inferno de si
o azul não suporta o cavalo
mentir é arma de domínio
negro
pobre
poeta
uma chuva rala
uma
procissão
de indiferentes
o corpo permanece
no asfalto Parangolivre.