12 de dez. de 2014

Taiobeiras e suas raízes: os Gerais das Minas.



A história de Minas Gerais é marcada pela exploração de minérios, ouro, o diamante o ferro, são símbolos da riqueza das Minas. Mas está história deixa de lado o outro lado do Estado, os Gerais, o sertão mineiro, do Rio São Francisco, Pardo e Jequitinhonha. Que pela desigualdade social presente nas mesorregiões do Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha e Mucuri, foi injustamente titulada como lugar da miséria. E quando digo injusta, é porque os Gerais faz parte de uma grande riqueza de capital social e cultural. E que mesmo com as dificuldades encontradas por estar em uma região semiárida, não deixa de ser uma região de potencial produtivo no setor agrícola.
Igreja N.S. da Conceição - Matias Cardoso - MG
No dia 08 de Dezembro, em homenagem a mais velha cidade do território mineiro, Matias Cardoso (antigo povoado de Morrinhos) que surgiu por meados da década de 1660, foi titulado como o Dia das Gerais. Uma forma de homenagear o outro lado do Estado, do povo Geraizeiro, que tem o rural como símbolo de sua cultura, e que são:
Bons conhecedores do Cerrado e das suas espécies, os geraizeiros são populações tradicionais que se adaptaram com sabedoria às características do bioma e às suas possibilidades de produção. Assim, garantem a subsistência familiar e comunitária ao longo do ano por meio do plantio de lavouras diversificadas como milho, feijão, mandioca, frutas e verduras. Os produtos que sobram são comercializados em comunidades vizinhas ou em feiras, beneficiados ou in natura. A criação de animais “na solta” também minimiza os custos e obedece a uma lógica secular que reconhece a capacidade da natureza de alimentar os seus rebanhos. (CERRATINGA – Geraizeiros: Homens e Mulheres do Cerrado).

Ser Geraizeiro é questão de identidade, de pertencimento. Entra a questão das relações sociais, dos hábitos, da vida cotidiana, que este último como menciona Netto e Carvalho (2011) “é aquela vida dos mesmos gestos, ritos e ritmos de todos os dias”. Sendo estes fatores relacionados com a construção da identidade do sujeito.  Onde tal identidade é relacionada com uma raiz de uma planta, onde dependendo da espécie do vegetal, suas raízes têm diferentes formas, onde umas se encontram mais profundas e fixas, e outras rasas e soltas. 
Igreja da Matriz - Taiobeiras - MG
O taiobeirense tende a ter como a planta que originou o nome do município de Taiobeiras, no sertão mineiro, raízes fixas, mas não ricas em nutrientes, e sim em identidade com sua naturalidade. Claro que como reflete Hall (2011), onde o sujeito diante da ideia de um mundo pós-moderno, “assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente”. Mas mesmo que esta raiz geraizeira não seja a mesma, ela está presente por todo este sertão mineiro, inclusive em Taiobeiras, cidade muitas vezes destacada na região como um “lugar diferente” dos outros aqui presentes. 

TAIOBEIRAS
Por: Zazau

Taiobeiras eu fico triste
somente em pensar
que um dia eu voltarei
para nunca mais voltar.

Mais comigo vai saudades
o fim dos sonhos meu
vai o brilho da estrelas
deste céu que e só teu.

Vai saudades do Tocão
das pedras da usina
da barragem lá de baixo da barragem lá de cima
de igrejinha na beira do asfalto do jardim
da praça da matriz
da rua grande na rua nova das ruas com  chafariz
das belas festas juninas da multidão de fogueiras
fazendo da minha taioba um chão cheio de estrelas.

Vai saudades da festa de maio
das barraquinhas cobertas de pindoba
ai quanta saudade vou levar de você minha taioba.

Vai saudades dos jogos de futebol
que mudavam nosso clima
quando se defrontavam  JK,  ATE e Mina
Taiobeiras sei que vou partir mais creia que vou em paz
pois sei que tu Taiobeiras não me esqueceras jamais.

8 de mar. de 2014

“Três Marias”

Bordadeiras - Elisiana Alves


O Cinturão de Órion é uma das constelações mais conhecidas da astrologia. Mintaka, Alnilam e Alnitak, as três estrelas que formam esse cinturão são conhecidas popularmente no Brasil como as Três Marias. Nome que não se sabe de fato quando e como surgiu, porém Maria é um nome forte, como o brilho da constelação de Órion, onde astrônomos apontam que sua visualização se torna mais intensa no mês de Março.
Não é de intenção falar de astronomia aqui, mas sim de mulheres. O mês de Março ficou representado pela luta das mulheres, e neste mês que as Três Marias que formam o cinturão de Órion se destaca no céu, falaremos de três mulheres, três Marias que representam a cidade de Taiobeiras, pela sua história de vida. Mulheres que mostram o lado de mãe, de política e cidadã. Que construíram parte da história do município, e que foram significativas nas vidas de muita gente. A escolha das três Marias aqui é um resumo de tantas outras Marias que construíram e constrói Taiobeiras.
Dona Maria:
Maria Lucinda de Oliveira nasceu na comunidade do Atoleiro no município de Taiobeiras, em 20 de dezembro de 1928. Casou-se em 1944 e se mudou para a antiga Fazenda Coqueiro. Ali viveu até 1949, aonde veio para a cidade. Do 1º casamento teve quatro filhos, em 1956 separou, teve ainda mais cinco filhos dos quais criou só. Dona de Casa de mão cheia, Dona Maria foi grande biscoiteira na região, fez muitos festas de casamento na cidade. Hoje aos 85 anos, sempre está fazendo alguma coisa, ou na cozinha preparando algo, ou zelando sua casa.  Atualmente tem quarenta netos, cinquenta e quatro bisnetos e três tataranetos. Apesar das dificuldades que teve na vida, sempre foi uma mulher de força e dedicação aos filhos, um símbolo de quem se dedicou aos filhos acima de tudo.
Dona Lia:
Maria Matos de Sena nasceu em 04 de janeiro de 1939 na Fazenda Alto Oliveira, Dona Lia assim conhecida, casou-se com Geraldo Sarmento de Sena, com que teve 07 filhos e 09 netos. Fez de tudo na fazenda onde morou boa parte da vida, dona de casa, costureira, cozinheira, e ali começou um dos ofícios que mais a representou, lecionando para os alunos da comunidade. Mudou-se para a cidade de Taiobeiras em 1963, onde lecionou por várias escolas. Em 1983 seu marido foi eleito prefeito do município. Em 1986 com a mudança para o regime democrático no Brasil foi implantado as secretarias de Assistência Social em todos os lugares, assim Dona Lia se tornou a primeira assistente social de Taiobeiras até 1988. Com um trabalho bem avaliado nesse período, se tornou nome forte. Quatro anos depois candidatou - se a prefeita, foi eleita a primeira prefeita na região. E mesmo com as dificuldades sofridas na sua gestão, Dona Lia foi uma das representações femininas mais fortes na política taiobeirense até hoje.
Dona Mariinha:
Maria Soares Guimarães nasceu na cidade de Caetité – BA no dia 20 de novembro de 1939, ainda recém-nascida foi morar na comunidade de Vargem Grande, na época distrito de Rio Pardo de Minas, onde cresceu e constituiu família. Exerceu nesse período vários ofícios, entre eles de professora de 1ª a 4ª série. Dona Mariinha, assim conhecida por todos, mudou-se para Taiobeiras nos anos 1960. Teve 05 filhos, 11 netos, e na expectativa de receber seu primeiro bisneto.  Fez parte de vários movimentos dentro da Igreja Católica, na Paróquia de São Sebastião, mais especificamente na comunidade de Cristo Rei. Em 1997 com a Campanha da Fraternidade com o tema “Cristo liberta de todas as prisões”, a Pastoral da Carceragem ganhou força em Taiobeiras, com a participação significativa de Dona Mariinha, que ao longo destes 14 anos vem desenvolvendo trabalhos de assistência social aos presidiários. Seu trabalho é reconhecido não só pelos presos da cadeia local, mas de toda comunidade e autoridades que vêem em seu trabalho uma oportunidade a muitos condenados. Trabalho que não fica só no espiritual, mas na tentativa de dar dignidade a muitos que passam por ali. Dona Mariinha é uma representação de uma luta social contra a violência a partir da tentativa de recuperação dos detentos.
Nossas Marias
As três Marias aqui tratadas são um pouco de tantas e tantas Marias que representam não só a cidade de Taiobeiras, mas em todo mundo. Mulheres que lutaram e ainda lutam numa sociedade cheia de desigualdade e inferioridades. Mulheres que passam por cima dos preconceitos de gênero, enraizado em uma sociedade patriarcal. Sociedade machista que apesar de tantas mudanças, está presente sempre, inferiorizando não só as mulheres, mas todos que não inclui o homem tradicional colocado nesta sociedade como o gênero mais forte.
A luta e o trabalho de Dona Maria, Dona Lia e Dona Mariinha pode ser pouco para muita gente, mas se tornam gigantes quando se vê as lutas das mulheres por todos os lugares. Mostrado que de frágil não tem nada, e que cada dia tenta se por adiante a situação de serem sujeitadas pelo gênero masculino, ganhando maior emancipação diante a esta batalha árdua do preconceito.  O nome Maria é um nome forte desta luta, como eternizada na música de Milton Nacimento onde faz homenagem a todas essas Marias que estão na luta.

Maria, Maria
Milton Nascimento
Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta
Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida



3 de fev. de 2014

“Honra e Glória a São Sebastião”



A Festa de São Sebastião o padroeiro de Taiobeiras MG, é realizada uma novena com celebração de missa, barraquinhas, leilões, bingo, apresentações artísticas, entrega da bandeira e procissão no período da segunda semana janeiro até o dia 20 deste mês, data que se comemora o dia do santo. Festa marcada como espaço de apresentações de cantores e bandas da cidade, onde muitos jovens têm como primeira experiência de se apresentarem ao público, tendo uma diversidade de ritmos músicas durante a festa. Marcada pelas comidas vendidas nas barraquinhas, o chá de amendoim, o caldo de frango (popular caldo de quenga), canjica, entre outros que foram acrescentados com o tempo na modernização da festa.
Os leilões realizados para arrecadação de dinheiro para cobrir os gastos da festa, além de ajudar a paróquia em outras atividades. O leilão é marcado pelas vozes como a de Noé do Planalto, que de forma diferencial grita de lá: “Olha o frangoooo! Quiiiiiiinze reais... quem da mais?”. Outros mais no jeitinho chegam dizendo: “Paz de Jesus meu amiguinho! Olha a leitoa assada, trinta reais, da mais?”, esse ai é Vavá da comunidade do Santos Cruzeiro.

Outro grande marco é a bandeira, Dona Zu começou junto com seu marido Seu Joais, entre outros como Sebastião Mendes, a entrega da bandeira a muitos anos atrás, onde desde o falecimento de Seu Joais, Dona Zu a dezesseis anos vem fazendo junto com seus filhos e netos a entrega da bandeira em homenagem a São Sebastião. Os foliões se reúnem e acompanha a entrega da bandeira fazendo todo o festejo na chegada á Igreja da Matriz, onde de forma animada com seus instrumentos acompanhados das palmas das pessoas que vieram para a celebração e também pela entrega da bandeira.
“Viva São Sebastião!” assim se inicia a celebração, onde no final após a bênção do padre, se da inicio o levantamento da bandeira, os foliões se encaminham para frente da igreja onde o mastro está deitado ao chão, assim ao colocar a bandeira no mastro, os fogos são soltos em comemoração e convocação da bandeira que será erguida. Os foliões não param de tocar, e junto com as palmas do público que acompanha a bandeira é erguida. As pessoas assim vão acendendo velas e fixando no pé do mastro, em homenagem ao santo padroeiro, dos militares e atletas, além de vários municípios como Taiobeiras – MG, e a capital do Estado do Rio de Janeiro. A imagem do santo também está presente em outras crenças como na Umbanda onde se tem o nome de Oxossi, o grande orixá das florestas e das relações entre o reino animal e vegetal.

Hino do Padroeiro de Taiobeiras – MG – São Sebastião
Grande atleta da nossa santa Igreja
Nobre mártir, ó São Sebastião
Vigoroso e invencível na peleja
Da virtude eis o nosso brasão.

Honra é glória
Honra e glória
Honra e glória
A São Sebastião
Honra e glória
A São Sebastião.

Acolhei sob a vossa proteção
A cidade de Taiobeiras
Nobre mártir São Sebastião
Nosso bravo e fiel padroeiro.

Destaque